terça-feira, 20 de março de 2018

PELA LEITURA NAS PERIFERIAS.

Pela leitura nas periferias

Felipe Gurgel - Diário do Nordeste 
Se a queixa entre os pais da classe média, durante as férias escolares de seus filhos, gira em torno da "falta do que fazer" com o tempo livre das crianças, imagina quando não se há dinheiro para bancar colônias de férias ou funcionários para cuidar dos pequenos. Na comunidade de Rio das Pedras, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), a biblioteca comunitária Wagner Vinício é o único equipamento cultural do local.

"Esse espaço é o grande atrativo para a comunidade. As crianças ficam ansiosas quando estão de férias, e todas precisam da biblioteca para interagir. Através da literatura, elas podem vislumbrar conquistas e uma outra realidade para seu futuro (normalmente cercadas pela falta de direitos básicos no cotidiano das periferias)", observa Carlos Honorato, membro da Rede de Bibliotecas Comunitárias da capital fluminense.

Ele e mais uma série de articuladores, envolvidos com as 12 redes de bibliotecas comunitárias por todo o Brasil, participam do V Seminário da Rede de Leitura Jangada Literária, em Fortaleza. O evento acontece nesta terça (27) e quarta (28), no auditório Valnir Chagas da Faculdade de Educação (Benfica) da Universidade Federal do Ceará (UFC). Além do intercâmbio entre os participantes, o encontro aborda os rumos da política do livro, leitura e biblioteca.

Palestrante da conferência de abertura ("Bibliotecas Comunitárias em conexão pela leitura como um direito humano", nesta terça, às 9h10), Cida Fernandez, do Centro de Cultura Luís Freire, de Olinda (PE), pontua que o debate passa pelo papel dessas bibliotecas como uma "sala de estar da comunidade", e de amenizar (sem substituir) a ausência do Estado nas periferias, bem como pelo direito à educação e à cultura.

"A gente entende (a rede de bibliotecas comunitárias) como uma rede complementar à pública, baseado na própria Constituição Federal. Essa complementaridade devia ser articulada ao Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas. Se eu tenho no Recife, por exemplo, três bibliotecas públicas, e sete comunitárias, você reduz custos se integrar os dois lados", observa Cida.

Ela coloca que, embora a biblioteca comunitária tenha um forte caráter humanizador, o principal desafio para se sustentar esses equipamentos, hoje, é justamente o recurso humano. Os editais públicos voltados à rede, normalmente, não contemplam as pessoas que trabalham como atendentes.

Como os moradores da comunidade trabalham ou estudam, o atendente que se voluntaria para estar na biblioteca comunitária é uma figura "flutuante" (às vezes um voluntário morador de classe média), de origem diversa.

Voluntariado

"Ninguém quer pagar essas pessoas pra trabalhar. E isso é uma visão muito atrofiada do trabalho comunitário. A gente tem buscado transformar isso, na perspectiva de transformar a vida de jovens que, trabalhando como voluntários, se desenvolvem, inclusive para ingressar no mercado de trabalho mais qualificados, depois", explica Cida Fernandez.

Carlos Honorato confirma que esse é um "calcanhar de Aquiles" para o sustento das bibliotecas comunitárias em todo o País. "São equipamentos super organizados, não são 'primos pobres' da rede de leitura. Toda comunidade devia ter uma biblioteca assim. A que eu atuo, fica a uma hora e meia de distância do Centro do Rio. Então, só quem tem um vínculo forte, com o livro e com a leitura, faria esse deslocamento", expõe ele.

Cida questiona que a situação não muda se o rumo da política pública não for outro, diferente do atual. "A situação vinha avançando, mas com o golpe do (governo) Temer mudou tudo. Livros, materiais, tudo isso se consegue. Mas o sujeito que atende nesses espaços só será valorizado com investimento das políticas públicas, através dos editais e da definição de critérios para as bibliotecas comunitárias receberem dinheiro do governo", sinaliza ela.

Juventude

Uma base da criação das bibliotecas comunitárias é atender as crianças pequenas. "É quase o que acontece naturalmente", destaca Cida Fernandez. Além do contato saudável com o livro, esses espaços são mais apropriados para que elas possam estudar.

"A biblioteca comunitária tem o foco de chamar a juventude. Algumas nascem de movimentos juvenis. De jovens que protagonizam todas as ações. A ideia das bibliotecas comunitárias é que a comunidade forme leitores. Quando as crianças pequenas vão pra lá, com o tempo os pais vão também. Estimula toda a família", pontua Cida.

Rede

A Rede de Leitura Jangada Literária, organizadora do evento, atua há cinco anos e é formada por sete bibliotecas comunitárias de Fortaleza e São Gonçalo do Amarante. Os equipamentos atendem, em média, 10 mil pessoas por ano, e atuam nos bairros Jardim Iracema, Álvaro Weyne, Padre Andrade, Floresta, Presidente Kennedy, na capital cearense, e em São Gonçalo.

Mais informações

V Seminário da Rede de Leitura Jangada Literária. Nesta terça (27), a partir das 9h (abertura), e quarta (28), no Auditório Valnir Chagas da Faculdade de Educação da UFC (R. Waldery Uchôa, 01, Benfica). Acesso gratuito. Contato e programação completa: jangadaliteraria.com

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