domingo, 6 de março de 2016

BIBLIOTECA PODE MUDAR VIDA, DIZ VENCEDOR DO CASA DE LAS AMÉRICAS.

Vencedor do Casa de Las Américas diz que biblioteca pode mudar vida

Mariana Menezes - MinC - 05/02/2016
Formado em Biblioteconomia, Letras Francês, Letras Tradução Francês, Filosofia e Teologia e fluente em oito línguas, Cristian Santos, servidor público da Câmara dos Deputados e pesquisador da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), acaba de receber um dos mais importantes prêmios literários da América Latina, o Casa de las Américas, na categoria literatura brasileira. Cristian foi premiado com o livro Devotos e devassos - Representação dos padres e beatas na literatura anticlerical brasileira, resultado da tese de mestrado feita pelo pesquisador na Universidade de Brasília (UnB). 

O livro premiado traça um panorama da representação de personagens religiosos em três livros da segunda metade do século XIX considerados anticlericais: O Mulato e O Homem, de Aluísio Azevedo, e Morbus: Romance Patológico, de Farias Neves Sobrinho.

Segundo Cristian, a literatura e as bibliotecas o salvaram de uma condição de muita vulnerabilidade social. O brasiliense vendeu cocada dos nove aos 19 anos para comprar livros, materiais escolares, passagem de ônibus e ajudar em casa. Filho de pai carpinteiro e mãe empregada doméstica, o escritor viu nos livros uma oportunidade de mudar sua história.

Atualmente, o servidor público faz pós-doutorado na Fundação Casa de Rui Barbosa, órgão vinculado ao Ministério da Cultura (MinC), e é orientado pela pesquisadora Isabel Lustosa. O foco de pesquisa verificar charges anticlericais que foram publicadas na imprensa brasileira no século XIX. As charges foram produzidas por jornais republicanos que defendiam a separação do estado e da igreja na mesma época dos romances analisados no livro. 

Em entrevista ao MinC, Cristian conta mais sobre a importância do prêmio e o poder de mudança do livro e da biblioteca, entre outros temas.

Qual é a importância de receber um prêmio como este?
O prêmio é outorgado anualmente pela Casa de Las Américas, em Havana, capital de Cuba. É considerado um dos prêmios mais importantes de toda a América Latina e começou em 1960. Tem diversas categorias, como contos, teatros e, desde 1980, a categoria literatura brasileira foi incorporada. Em 2016, os textos indicados deveriam ser não ficcionais de críticas literárias. Era única categoria aberta para brasileiros. Além de receber o valor de 3 mil dólares em prêmio, a Casa de Las Américas irá traduzir o livro para o espanhol. A primeira edição em português teve uma tiragem de mil exemplares. Agora serão 10 mil.

Como é sua relação com a leitura? 
Eu vim de uma família muito pobre e sempre fui muito apaixonado pela biblioteca perto da minha casa. Ali, eu me sentia igual a todo mundo, era um ambiente democrático e com um lindo jardim. Durante toda a minha infância e juventude, eu frequentei o espaço. Foi lá que nasceu o afeto pela literatura, tinha facilidade em localizar as fontes e quando tinha gincana na escola eu sabia onde tinha cada informação nos livros. 

Como foi a sua carreira profissional e acadêmica?
Trabalhei por 10 anos na biblioteca do Superior Tribunal de Justiça. Posteriormente, passei no concurso da Câmara dos Deputados, onde estou até agora. Meu mestrado foi em ciência da informação, sobre os arquivos que existiam antes do final do regime do padroado até 1890. Naquela época, todos os registros eram feitos na Igreja, como nome, casamento e óbito. Só depois dessa separação que o Estado começou a produzir seus próprios documentos. Minha análise foi para saber a condição desses arquivos, que são importantes para a nossa história e ficaram aos cuidados da Igreja Católica.

Você tem prêmios no currículo. Quais são?
Fiz mestrado e doutorado na Universidade de Brasília. Meu mestrado, defendido em 2005, foi premiado pelo governo da Argentina no concurso latino-americano Fernando Baiz. O doutorado resultou neste meu livro, que foi indicado ao Prêmio Jabuti nas categorias capa e crítica literária. Agora veio o prêmio da Casa de Las Américas.

Pela sua história, como você vê o papel da literatura na sua vida e na vida das pessoas? 
A literatura teve um papel de redenção, me salvou de muita vulnerabilidade social. Os meus pais sempre fomentaram para que eu estudasse. Eles diziam que a única oportunidade de sair daquela situação era com o estudo e eu encontrei isso na figura da biblioteca. Nos últimos anos, o Brasil passou a oferecer uma série de modalidades de incentivo ao estudo para os mais pobres. Eu não tive essa oportunidade, mas minha irmã mais nova está fazendo faculdade por causa desses incentivos. Eu usei da minha cara de pau para conseguir estudar, entregava cartas manuscritas nas escolas de línguas para conseguir bolsa. Uma história curiosa foi quando fui ao Instituto Cervantes falar com o diretor e ele me tratou muito mal, ele estava com vários problemas na escola. Decidi guardar a carta e no ano seguinte voltei e consegui a bolsa. Eu reconheço, eu provei que a biblioteca tem um papel mobilizador e pode transformar a vida das pessoas. É um espaço que garante que todos os grupos sejam valorizados.

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