domingo, 27 de setembro de 2015

VAI FAZER O ENEM?

Professores indicam livros cotados para o Enem

Amanda Palma - Correio 24Horas

“Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido que amado”. Em 1532, quando lançou o tratado político O Príncipe, o italiano Nicolau Maquiavel talvez não imaginasse que a sua obra fosse atravessar séculos, se espalhar pelo mundo e ir parar em uma questão do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no Brasil, em 2013. O livro é um dos clássicos que, na opinião de professores ouvidos pelo CORREIO, não pode ficar de fora do repertório de quem vai fazer o exame daqui a 45 dias. E se você é um dos candidatos, é bom iniciar logo a maratona, pois a lista de possibilidades é extensa.

Diferente dos vestibulares tradicionais, o Enem não divulga uma lista de leituras obrigatórias, mas, ainda assim, para o professor de Filosofia Rosival Carvalho, “algumas obras são fundamentais para o entendimento” dos candidatos, que buscam uma vaga no ensino superior através do Enem. Entre os principais, além de O Príncipe, ele destaca O Mundo de Sofia, A Revolução dos Bichos, Capitães da Areia e Grande Sertão: Veredas.

Sobre a obra de Maquiavel, Rosival afirma que ela irá ajudar os estudantes a compreenderem o universo das relações de poder. “De alguma forma, ajuda a ampliar as visões de mundo dos estudantes. Eles saem de uma visão generalista e não podem ficar presos aos elementos vistos na sala de aula”, explica ele, que também cita uma obra mais recente, envolvendo uma discussão da sociedade, como essencial para a prova. A Era dos Extremos, de Eric Hobsbawn, publicado em 1994, retrata as transformações das relações humanas durante o século XX.

Literatura
Já o professor de Literatura Evert Reis lembra que alguns livros, que antes apareciam com frequência nos vestibulares, também não podem ser deixados de lado, mesmo que não haja a lista obrigatória. Entre eles, Vidas Secas, de Graciliano Ramos, publicado em 1938. A obra retrata a trajetória de uma família nordestina, em processo de migração. “Temos alguns clássicos indispensáveis, como Vidas Secas. Eu trabalho esse livro há 30 anos e nunca deixou de ser útil. Ele une três disciplinas: geografia, literatura e história”, lembra.

O professor destaca também a importância de entender as obras e os seus contextos históricos – quando foram escritas e publicadas. No caso da obra de Graciliano Ramos, ele destaca que a história é uma das que tiveram maior destaque. “É um dos mais importantes livros da Era Vargas, trata sobre a desumanização do homem, inchaço das grandes cidades, o êxodo rural. Além de ser muito bem escrita, com um texto extremamente crítico e atual”, pontua. O livro faz parte da segunda geração moderna.

Evert também lembra de outros livros importantes, como Iracema, Senhora e Lucíola, de José de Alencar, e Macunaíma, de Mário de Andrade. Sem deixar de lado outros autores como Clarice Lispector, em A Hora da Estrela, e Carlos Drummond Andrade, com O Sentimento do Mundo.

A estudante do terceiro ano do Colégio Villa Débora Vieira, 17 anos, lembra de outros: O Cortiço, de Aloísio de Azevedo, e Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, que também teve um trecho usado em uma questão na prova de 2013. “A gente faz muitas correlações com os movimentos literários e com contexto histórico. Algumas obras nos ajudam a entender melhor o que aconteceu em cada época”, ressalta a estudante.

Débora quer cursar Engenharia Civil, mas, apesar de ser um curso da área de exatas, sabe reconhecer a importância da leitura, por exemplo, de romances históricos. “Qualquer curso que você faz trabalha com interpretação. E o livro te dá isso, essa possibilidade de interpretar de várias maneiras”, pontua.

Interdisciplinar
Como o Enem tem uma prova temática e interdisciplinar, os professores também recomendam que os candidatos não se prendam aos livros de literatura e fiquem atentos a outras leituras. Para a professora de Redação Régia Rozana Pires, a leitura abre um mundo de possibilidades para os estudantes. “Esses livros podem embasar o aluno na análise do contexto. Pode haver no livro uma situação que pode ajudá-lo na análise crítica. Se for um tema subjetivo, os livros podem auxiliar na interpretação”, diz.

Dentro do amplo leque de leituras, o professor de redação Gilmar Costa inclui uma publicação que poucos estudantes dão prioridade na preparação: a Declaração Universal dos Direitos Humanos. “Se o estudante não a conhece, pode escrever algo e se comprometer. Como os temas estão sempre voltados para a vida social do indivíduo, essa leitura pode dar um bom suporte”, conta.

Professores dão dicas de como organizar leituras
Para conseguir dar conta de tantas leituras e não esquecer detalhes das obras na hora de responder as questões ou até fazer associações na redação, os professores recomendam que os estudantes façam resumos, resenhas ou fichamentos das obras. Mas, para isso, é bom fazer um roteiro, conforme indica o professor de Literatura Evert Reis.

“Tudo tem que ter técnica. Como os alunos têm uma carga de conteúdo sem tamanho, nem sempre têm facilidade de fazer fichamento, por isso, dá um pouco de trabalho, mas ainda assim, vale a pena”, comenta. Ele destaca que é importante selecionar aspectos da leitura como contexto histórico, movimento literário, perfil dos personagens e síntese do enredo.

Segundo o professor, mesmo que o estudante não volte a consultar o fichamento, no momento em que ele é feito, já há um aproveitamento. “Já ajuda a associar. Ele constitui uma técnica mnemônica (fixação de informação)”, diz.

Evert lembra, no entanto, que não se deve apenas restringir a obra ao resumo. “Os que podem ler, melhor, porque eles podem tirar as dúvidas”, afirma. Além disso, o professor recomenda que o aluno exercite sua interpretação, no sentido de buscar possíveis mensagens que as histórias tenham.

Além dos resumos, a estudante Débora Vieira afirma que tem por hábito discutir
as obras com os colegas. “Eu gosto muito de ler, e acredito que conversando com outras pessoas, discutindo sobre os livros, consigo relembrar melhor os detalhes”, diz a estudante.

Lista tem autores ‘campeões de aparição’ no Enem
Alguns escritores são campeões de citações no Enem, segundo o professor de Literatura do Colégio Vitória Régia Zé Silva. Na lista de aparições contumazes (ver mais ao lado), o professor cita Carlos Drummond de Andrade, Érico Veríssimo, Mário de Andrade, Machado de Assis, José de Alencar… A lista é extensa e, como cada um tem uma gama de publicações, é preciso ficar atento às que tiveram maior repercussão.

“Os autores do Sul e do Sudeste e de outros países têm maior espaço no exame”, analisa Zé Silva, que atribui o fato a “algumas repetições nas edições da prova”.

“Alguns livros sempre acabam aparecendo”, diz o professor, ao citar Marília de Dirceu, título de uma coletânea do autor português Tomás Antônio Gonzaga.

O professor Evert Reis completa a lista com os poetas Vinicius de Moraes, Cecília Meireles, João Cabral de Melo Neto, Manoel de Barros. Ele diz ainda que é necessário que o estudante amplie sua visão literária, contemplando diversos estilos, mas sem deixar de lado o que é tradicional.

“Ele (candidato) precisa ter essa vertente com essa leitura tradicional, tem que ter senso estético e literário”, alerta Reis.

O professor também lembra que o estudante tem que estar apto para interpretar outras linguagens, como as de imagens. Isso porque, em diversas questões do exame, o candidato é convocado a estabelecer relações entre textos e imagens. “Atualmente, as provas vêm muito com imagens, tirinhas, charges”, cita ele.

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