terça-feira, 23 de dezembro de 2014

TROCO UM CAUSO POR UM CONTO.

Quer trocar um causo por um conto?

G1 - 07/12/2014
Um escutador. É assim que o artista plural Daniel Viana se define. Do teatro para as ruas, o cenário é simples: uma máquina de datilografar, duas cadeiras, uma mesa e uma placa com os dizeres: troco um causo por um conto. Durante todo o ano de 2014 o poeta de Poços de Caldas (MG) passou por 24 cidades de diferentes partes do Brasil e ouviu histórias pessoais do público com a missão de transformá-las em micronarrativas. A aposta deu certo e surgiu o novo livro, “Baseado em Causos Reais”, vendido a R$ 15. O lançamento em Poços de Caldas acontecerá na semana que antecede o Natal.

Durante as andanças por diferentes estados brasileiros, o escritor relata que o mais emocionante foi estar nas ruas para ouvir desconhecidos e sentir que eles se emocionaram com a disposição que ele teve apenas para ouvi-los. “Considero meu trabalho simples, mas percebo na reação dos outros que existe uma grandeza que não enxergo, e espero não enxergar. A ação é uma troca poética, tornando a ação gratuita para os contadores das histórias. O livro representa uma pequena parte deste processo de criação na rua, tendo como inspiração e testemunha a história viva”, definiu.

Em um ano, mais de duas mil histórias foram ouvidas e registradas por Daniel Viana, uma a uma, em cadernos e mais cadernos que ele coleciona – e que foram fotografados para uma das ilustrações que compõem o livro. Pessoas de diferentes sotaques, idades e convicções sentaram-se diante dele para relatar emoções, que vão da dor ao humor. Como toda narrativa precisa de um personagem, o autor criou então ‘Joaquim’, que por meio da poesia, aparece em muitos causos do livro, mora em mais de 20 cidades, tem mais de mil rostos, mais de 80 e menos de 2 anos, diversos tons de pele, infinitos nomes e muito o que contar.

Entre as coisas que ouviu no processo de criação, a que mais marcou e emocionou o poeta foi a de um homem que saiu de Sumé (PA) para encontrar o filho caçula que não dava notícias à família e que estaria em São Paulo (SP). “Acontece que um homem criado em uma cidade com cerca de 15 mil habitantes não imaginava o tamanho da capital paulista, a cidade foi aos poucos engolindo este senhor simples que só queria reencontrar o filho, no seu relato ele me disse que quando chegou na rodoviária do Tietê, sem saber por onde começar foi pedir ajuda aos funcionários. Para ele escrevi o conto Lândia: ‘Foi até São Paulo procurar o filho caçula. Não sabia por onde começar. Joaquim não o aguardava no ‘achados e perdidos’ da rodoviária’”, lembrou.

as, este não é o preferido dele. O conto que abre o livro é definido como o que mais agrada Daniel, pois, segundo ele mesmo, o traduz. “Sou artista justamente por sentir muito, sentir tudo, sentir o mundo. O conto diz: AVALIAÇÂO MÉDICA - O que você sente? - Eu sinto muito.”

Sensações trocadas por causos
Por ‘sentir’ demais é que as histórias na rua, por serem múltiplas, tocam tanto o escritor-escutador, que nunca sabe o que vai encontrar no próximo relato. De acordo com ele, a atividade o faz perceber que as próprias dores ficam pequenas perto de tantas histórias ouvidas. Mesmo assim, as dificuldades aparecem.

“É bem comum as histórias se repetirem e tento evitar criar textos iguais ou próximos. Ou, outras vezes, pessoas que no ato de narrar a história contam de forma superficial, sem muitos detalhes e emoção, resumindo em uma frase breve por exemplo. Nestes momentos me dá uma certa adrenalina, mas compreendo que a rua é sempre um desafio, e encontrar a poesia escondida na oralidade das pessoas, mesmo que seja breve, é um desafio ainda maior”, contou.

A educadora Janaína Moitinho é uma das pessoas que se deixou contagiar pela intervenção do escritor. Sentada em uma das cadeiras, ela lhe contou um causo e recebeu de volta um conto. “Pude ver como ele absorve e transforma cada relato em poesia. É entrega, escuta, beleza. Vejo luz nele inteiro. Acompanhei o ‘nascimento’ do livro e imediatamente já li, senti e sorri imaginando as histórias por trás daquelas páginas. Todo esse processo que embeleza a rotina da gente faz o cotidiano muitas vezes automatizado mostrar sua arte. O Daniel e seus trabalhos são sutileza e força ao mesmo tempo. Me ajuda a enxergar o quanto a vida de cada um é única e toda poesia”, comentou.

A autônoma Ione Nadu também conhece o trabalho do autor e faz questão de anunciar o quanto esperou pelo novo livro, já que o autor lhe presenteou com um livro artesanal ao saber que sua filha, com síndrome de Down, leu a primeira palavra. “Pude conhecer o menino-pássaro que não para de flores-ser e ainda fomos presenteadas, eu e minha filha, a Milly, com uma edição única e especial, feita em comemoração a uma grande conquista, ela ler sua primeira palavra. Esse ser de luz é uma das gratas surpresas que 2014 me trouxe junto com muita poesia. Estou muito feliz por mais este livro”, relatou.

 “100 contos por 10 contos trocados”
O lançamento deste domingo é o segundo livro de Daniel Viana, que há um ano lançou o livro “100 contos por 10 contos trocados”, também no mesmo molde, mas que reúne textos inspirados em histórias reais, contos fictícios e contos biográficos, totalizando 100 micronarrativas. As obras surgiram da vontade de realizar uma intervenção urbana diária, que mesclasse fotografia, poesia e a internet, daí a página em uma rede social que dá nome ao livro e o projeto “Guardanapos Poéticos”.

Desde então, o escritor define-se como uma pessoa melhor. Ao ser questionado sobre como é o Daniel Viana neste segundo livro, ele resumiu: “um Daniel com mais amigos, através da intervenção nas ruas fui ampliando minha lista de pessoas queridas e encontrei nos saraus um movimento lindo de pessoas que estão sempre de braços abertos para receber o outro”.

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