terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

DR. ZOROASTRO DE OLIVEIRA FILHO.

segunda-feira, 30 de maio de 2011


Dr. Zoroastro de Oliveira Filho 

                                        "A grandeza não consiste em receber
                                                                           honras, mas em merecê-las"
                                                                                                                   Aristóteles

                                   Do alto de meus oitenta anos, ainda me lembro, com muita clareza, dos meus dias idos e vividos, e muito do que se passou desde que me dei conta de minha existência. Nesse lançar de olhos ao passado, é natural vir à mente fatos ou pessoas que, por algum motivo, tornaram-se importantes para mim e marcaram a minha infância.

                                   Infância esta que, afortunadamente, foi feliz, como também foi a dos meus dez irmãos. São muitas as recordações de um passado já distante pelo o acúmulo dos “janeiros", mas que sempre quando vêm à mente trazem prazer, alegria e satisfação de poder ostentá-las. O grande pensador Thomás de Aquino afirmava: "Manter-se alguém ou fatos em seu ser é manter-se naquilo que condiz com a razão".

                                   Fernando Pessoa complementa de forma magnífica esse pensamento, ao dizer que "o valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade que elas acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis".
                           
                                   Zoroastro de Oliveira Filho, ou Dr. Oliveira, como era conhecido, ou Oliveirinha, como as pessoas que o conheceram na juventude assim se referiam a ele foi, sem dúvida, uma, dessas pessoas incomparáveis. Apesar de na época em que o conheci ter apenas três para quatro anos de idade, tenho viva na memória a lembrança da maneira como o Dr. Oliveira me distinguia, a acolhida que me proporcionava, as atitudes carinhosas, as brincadeiras, as idas a casas dos clientes enfermos, na sua barata Ford, modelo 1929, onde aguardava por ele até que o atendimento terminasse. E tanto outros fatos e episódios nos quais o Dr. Oliveira demonstrava a sua predileção pela criança e depois pelo jovem filho de seu fraternal amigo.

                                   Nessa época, minha família tinha o hábito de jantar mais tarde do que o convencional, pelo fato de meu pai clinicar no Colégio de Sion, onde mantinha consultório dentário completo, e também em seu consultório na cidade. Como ele fazia questão de realizar a refeição com seus onze filhos assentados em volta da mesa, cada qual com seu lugar pré-estabelecido, o jantar era servido por volta das 19.30h.
                          
                                   Via de regra, à noite o Dr. Oliveira passava em nossa casa e, às vezes, quando estávamos jantando, ele mesmo pegava uma cadeira, colocava-a ao lado da mesa e ficava ali conversando com todos. Terminado o jantar, passava-se para sala de estar, ou ele e meu pai saíam para fazer uma caminhada pela cidade e, à medida que caminhavam, outros amigos apareciam e se juntavam a eles. É curioso observar que, na época, podia-se caminhar no meio da rua, e não no passeio, o que era possível pelo pouco movimento de veículos. Sistematicamente, a caminhada terminava no bar do "Chatinho", onde o Dr. Oliveira propunha que se tomasse uma cerveja sob alegação de que era um bom diurético. Sempre que possível, esperava por eles la no bar para tomar guaraná. O máximo que elem tomavam eram uma ou duas garrafas de cerveja.
                                   Conhecido pela retidão de seu caráter, por sua competência e por uma conduta profissional pautada pela ética e pela honestidade de seus atos, o dr. Oliveira se firmou como "O MÉDICO DA CIDADE DA CAMPANHA". Profissional competente, caridoso e humanitário, a quem todos recorriam e, prontamente, eram atendidos, sempre com a mesma atenção, sem distinção de raça e condição social. Era muito comum, em determinados atendimentos, o Dr. Oliveira não cobrar os seus honorários, até mesmo quando realizava cirurgias, caso se tratassem de pessoas carentes ou de pouco recurso. Por sua retidão e generosidade, pode-se dizer que o Dr. Oliveira fez da medicina um verdadeiro sacerdócio. 
                        
                                   A sua dedicação profissional lembra-nos um São Vicente de Paulo a distribuir caridade. Com efeito, Dr. Oliveira não tinha hora para atender um chamado urgente; muitas vezes, ainda alta madrugada estava ele numa fazenda distante da sede do município e, em uma época em que as estradas rurais ainda não cobriam todos os caminhos, necessitava de um cavalo para chegar até ao local em que se achava o paciente.
                                  
                                   Procurando estabelecer um paralelo entre o atendimento médico que se faz nos dias de hoje e aquele praticado pelo Dr. Oliveira, o que me vem à mente é a idéia de que havia em seu atendimento uma atenção integral à saúde, com a reinserção do paciente na família e na comunidade. E, ainda, conhecendo a enfermidade, ele conhecia também a pessoa doente, não sendo difícil estabelecer o que diz máxima: não existe doença, existe doente.

                                   Ainda me lembro, mesmo sendo criança à época, quando o Dr. Oliveira ia a nossa casa atender um de nós que estava com problema de saúde. Nessas ocasiões, mal entrava em casa e já parecia saber o que o paciente tinha; com isso, fazia rapidamente o diagnóstico, explicava o que estava acontecendo e passava as prescrições necessárias. Hoje, entendo que esse procedimento que envolvia um conhecimento amplo de seus clientes estava ligado ao exercício de uma medicina caracterizada pela integral dedicação do médico aos seus pacientes.

                                   Zoroastro de Oliveira Filho reunia na sua personalidade uma perfeita integração do homem com o médico. Não havia, de fato, uma distinção formal entre um e o outro; sua presença era forte, ensejava confiança e carisma de um predestinado.
As suas qualidades, a bagagem de conhecimentos e experiências estão intimamente associadas a ele, como também estão a ética, a honestidade, a postura e o carisma. Valores esses que compunham a personalidade do homem íntegro que foi, e que explicam o forte impacto por ele causado junto à população Campanhense.
                  
                                   Consagrando sua destacada trajetória, no ano de 1947, houve eleição para prefeito de Campanha, em decorrência da deposição de Getúlio Vargas, em 1945 – quando o país retornou à democracia. Por vontade própria e incentivado por amigos, Dr. Oliveira decide candidatar-se, trilhando os passos de seu pai, o saudoso Cel. Zoroastro de Oliveira, que liderou a política da cidade de 1° de janeiro de 1908 a 7 de outubro de 1927, como agente executivo. Sua liderança política, porém, só termina com o seu falecimento, ocorrido em 27/07/1931. Dr. Oliveira teve o reconhecimento da população Campanhense que lhe consagrou expressiva vitória, ao conquistar 80% dos votos válidos.
                     
                                    Não se tratam aqui de meros e fugazes elogios, mas sim, a tentativa de retratar a vida de uma pessoa que, como cidadão, profissional médico e homem público, teve uma passagem marcante, uma vida repleta de sentimentos altruísticos. Ao procurar retratar essa personalidade ímpar de Zoroastro de Oliveira Filho, o faço como algo que nasce de dentro para fora, e que vem carregado de sentimentos.
                     
                                   Entendo que esse texto é repleto de saudosismo, mas o que é o saudosismo senão uma atitude perante a vida com um profundo significado e com amplas dimensões, consubstanciadas numa percepção humana que tem como base a saudade e a valorização do passado; de um passado que envolve pessoas, fatos e acontecimentos que geraram paradigmas importantes às gerações futuras.
                     
                                   Zoroastro de Oliveira Filho prosperou como cidadão, médico e homem público, mas não perdeu a modéstia; ao longo de toda sua vida, continuou sendo o Oliveirinha que as gerações passadas carinhosamente o chamavam, homem digno, íntegro e honrado que é motivo de orgulho para todo cidadão Campanhense, independente de seu tempo.
                                             
Tarcísio Brandão de Vilhena

Um comentário:

  1. Lembro muito bem de seu consultório ao lado de sua casa...
    de sua saida para ver clientes... de sua figura , de calça caqui e botas, pronto para enfrentar um cavalo... estive pouco em campanha mas o que ficou foi uma lembrança muito forte, com tia Conceição sempre ao seu lado. Stella Maria

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