domingo, 10 de novembro de 2013

LIVROS VINDOS DO LIXO.



Catadora monta biblioteca com livros retirados do lixo

Tribuna - 27/10/13
Babi Bezerra

No meio de depósitos de lixo espalhados em diferentes bairros de Arapiraca, a catadora de materiais recicláveis Babilônia Bezerra, Babi, como é carinhosamente conhecido entre os moradores, conseguiu resgatar, desde o início deste ano até agora, 1.980 livros jogados nas ruas e montar uma biblioteca particular em sua humilde residência.

Moradora do Conjunto Valentim, no bairro Canafístula, numa das localidades mais carentes e com altos índices de violência da cidade, Babilônia Bezerra é casada com um pedreiro e mãe de quatro filhas.

Ela estudou até os 14 anos de idade e somente concluiu o segundo ano do Ensino Fundamental.

Considerada uma semi-analfabeta, a catadora de lixo revela que o amor e o gosto pela leitura podem ultrapassar barreiras sociais e transformar a vida de toda uma comunidade.

Para manter o seu ideal, com a coleta de livros perdidos, Babi conta que modificou toda a estrutura de sua casa para armazenar o rico acervo retirado do lixo.

Apenas com a ajuda do marido e das filhas, a catadora de materiais recicláveis utilizou catou também no lixo vários guarda-roupas para improvisar a construção da biblioteca e guardar todos os livros.

“A casa começou a ficar pequena. Tivemos de retirar as camas e dormir todo mundo em colchões”, relata.

Babi disse que o marido ajudou a construir outra casa, para que a residência mais velha pudesse guardar a biblioteca, permitindo que outros moradores de sua comunidade, principalmente as crianças, tivessem acesso aos livros para adquirir novos conhecimentos.

A catadora lembra ainda do primeiro livro que encontrou no lixo, um exemplar da escritora Ieda Dias, publicado no ano de 1972, da Editora Vigília, e que coincidentemente aborda as experiências criadoras.

No acervo da Babi também é possível encontrar obras didáticas , literárias e de escritores famosos como Castro Alves, Machado de Assis, Graciliano Ramos, entre outros.

“Achar livro nas ruas é tarefa fácil, e o melhor lugar é na beira da linha férrea, onde as pessoas jogam lixo e livros que não querem mais usar”, revela a catadora de materiais recicláveis.


Sem condição de ampliar a biblioteca, Babi faz doação de livros

O espaço da biblioteca é administrado por ela mesma. Algumas pessoas preferem levar as obras para ler em casa, enquanto outros aproveitam o espaço do depósito para colocar a leitura em dia.

Babi conta que, por conta da falta de mais espaços em sua casa, ela teve de fazer doações de livros para moradores da comunidade.

Do acervo de 1.980 livros, a catadora de lixo já entregou 1.400 títulos, ficando em sua casa ainda mais de 500 exemplares dos mais variados gêneros literários.

Babi explica que conseguiu um emprego em uma escola da rede municipal, e agora tem pouco tempo para procurar livros nas ruas da cidade, mas mesmo assim ainda continua achando exemplares jogados nos depósitos de lixo.

Emocionada, a catadora diz que, mesmo com pouco estudo, os livros ajudaram-na a ler e escrever melhor.

“Catar lixo e livros é uma diversão e um prazer para mim. Na adolescência, eu sonhava em ser jornalista ou repórter policial, mas não tive a oportunidade de concluir meus estudos, e o trabalho com os livros usados posso ajudar minhas filhas nas tarefas que as professoras passam para os deveres de casa”, afirma.


Sonho de montar uma biblioteca comunitária

Apesar de ter reduzido seu acervo pessoal, com a doação da maior parte dos livros encontrados nas ruas de Arapiraca, a catadora Babi Bezerra não esconde o sonho de montar uma biblioteca comunitária no Conjunto Valentim.

“Queria ter dinheiro ou ajuda de alguém para bater uma laje e construir um espaço em cima da minha casa para construir uma biblioteca comunitária”, comenta a catadora de lixo e materiais recicláveis.

Com a experiência de ter casado aos 14 anos de idade, deixado de estudar na mesma época e ter trabalhado na lavoura, depois em casas de família como babá e vendedora autônoma, a catadora Babi Bezerra resume os seu amor pelos livros com a seguinte frase: “Você aprende a escrever, mas não escreve sem ler”.


Estudo mostra que brasileiro lê apenas um livro por ano

Segundo a bibliotecária Wilma Nóbrega, uma pesquisa realizada pelo Instituto Pró-Livro revela que a média de leitura da população brasileira é de apenas 1,3 livros por ano, percentual abaixo da Colômbia, com 2,4 livros.

Ela diz que esse número é considerado baixo, em comparação com outros países, a exemplo dos Estados Unidos, cuja média anual é de 5,1 livros.

Wilma Nóbrega acrescenta que a França tem uma das maiores médias, com sete livros lidos por ano por pessoa.

Ainda de acordo com a bibliotecária, para incentivar o gosto pela leitura, o Ministério da Cultura em parceria com o Ministério da Educação lançou, no ano de 2006, o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL).

“As ações estão sendo desenvolvidas em todo o país, inclusive aqui em Alagoas, que vem registrando uma elevação significativa de projetos e programas de incentivo e estímulo pela leitura”, destaca.

Ela cita como exemplos a realização da Bienal do Livro, em Maceió, e um projeto que está sendo ampliado na cidade de Arapiraca, com as Arapiraquinhas, que são bibliotecas digitais de bairro.

No município já foram implantadas seis unidades, na área urbana e também na zona rural.

“Esta semana, mais dois espaços de incentivo à leitura foram construídos nas comunidades rurais de Vila São José e Bananeiras”, salienta Wilma Nóbrega.

As bibliotecas Arapiraquinhas contam com um espaço multicultural que disponibilizam o acesso à informação através do seu acervo composto por livros, periódicos, CDs, DVDs, mapas, jogos, acervo em braille e à Internet.

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