quarta-feira, 21 de agosto de 2013

CAMPANHENSES NOTÁVEIS. VITAL BRAZIL MINEIRO DA CAMPANHA.

VITAL BRAZIL MINEIRO DA CAMPANHA

                                

 De autoria de Lael Vital Brazil


Vital Brazil era filho de José Manoel dos Santos Pereira Júnior e Mariana Carolina dos Santos Pereira. O avô de Vital Brazil, era de uma família proprietária de terras e escravos em Itajubá, em Minas Gerais. Para não dividir os bens, as famílias ricas, no século XIX, casavam-se entre si. O avô de Vital Brazil não seguiu esta regra: viveu sem se casar, por mais de trinta anos, com Maria Joaquina do Nascimento, de família de comerciantes, com quem teve três filhos naturais. Esta condição fez com que o pai de Vital Brazil se sentisse marginalizado por questões materiais. Por este motivo resolveu colocar em seus seis filhos sobrenomes diferentes do seu, inventando-os por ocasião do nascimento de cada um. O primeiro filho nasceu no dia 28 de abril de 1865, dia de São Vital, na cidade de Campanha, no estado de Minas Gerais. Batizou-o de Vital Brazil Mineiro da Campanha.
O pai de Vital Brazil trabalhou como caixeiro viajante. Por isso sua família residiu em Itajubá, Caldas e Guaxupé em Minas Gerais. Em todos estes momentos, o avô de Vital Brazil deu apoio financeiro ao filho. Em 1880 os pais de Vital Brazil mudaram-se com seus filhos para um colégio protestante em São Paulo, onde foram trabalhar. Sua opção pela medicina foi adiada pelo fato de sua família não poder custear seus estudos. Seu pai usou seu prestígio, e o de sua família, para conseguir um emprego para Vital Brazil na cidade do Rio de Janeiro, onde localizava-se a Faculdade de Medicina. Depois de várias tentativas, o Ministro da Justiça -  político da região de Itajubá ofereceu-lhe um emprego de escrevente na Secretaria de Polícia. Além disso, Vital Brazil deu aulas no Liceu de Artes e Ofícios. Em janeiro de 1892, concluiu o curso de Medicina sustentando sua tese intitulada "As funções do baço".
Assim que se formou, Vital Brazil casou-se  com Maria da Conceição Filipina de Magalhães e foi contratado pelo Serviço Sanitário de São Paulo. Em 1895, optou pela prática clínica, mudou-se para Botucatu, onde atendeu várias pessoas picadas  por cobras. No final do século XIX a produção de café avançava naquela região. Muitos camponeses morriam de picada de cobra. Em 1897 Vital Brazil veio para São Paulo trabalhar no Instituto bacteriológico dirigido por Adolpho Lutz. Naquela época, a Peste ameaçava a vida de milhares de pessoas, sobretudo nas regiões portuárias. O soro demorava muito tempo para chegar ao Brasil, pois era produzido na Europa. Em 1899 Vital Brazil passou a chefiar um laboratório do Instituto Bacteriológico, situado na fazenda do Butantã, distante do centro de São Paulo. Instalado em um verdadeiro estábulo, Vital Brazil começou a produzir soro anti-pestoso.
No dia 24 de fevereiro de 1901 o Presidente Rodrigues Alves transforma este laboratório no Instituto Butantã que passou a ser dirigido por Vital Brazil. Logo começou a produção do soro anti-pestoso. Seu interesse em soros anti-peçonhentos era grande. Na época, predominavam os estudos do cientista francês Calmett, baseados em cobras Naja, inexistentes no Brasil. Vital Brazil constatou que este soro não surtia efeito em animais contaminados com o veneno da jararaca e da cascavel. Assim ele concluiu que o soro anti-peçonhento deveria corresponder a um tipo de cobra específica. Cabia então produzir este soro e em seguida convencer a comunidade científica de sua descoberta. Em 1901 produz as primeiras ampolas e começa a publicar suas descobertas em revistas científicas. Dois anos depois apresenta seu trabalho em um congresso médico, realizado no Rio de Janeiro.
Feita a descoberta, produzido o soro, convencida a comunidade científica, cabia a Vital Brazil convencer a sociedade da eficácia do soro anti-peçonhento. A estratégia implementada foi a de estimular os fazendeiros a trocar cobras vivas por soro. Com isso Vital Brazil pretendia distribuir o soro para os que necessitassem, desmontar as residências à adoção do novo sistema curativo, conhecer a variedade biológica brasileira e desenhar um mapa localizando a origem geográfica das espécies. Ele produziu o soro anti-ofídico misturando soros de cobras de espécies nacionais diferentes. Entre 1903 e 1919 Vital Brazil publicou  cerca de oitenta artigos em revistas científicas e o livro A Defesa contra o Ofidismo. Ele viveu 20 anos no Butantã, onde nasceram e cresceram os nove filhos de seu primeiro matrimônio. Em 1913 faleceram sua mãe e sua esposa.
Em 1915 o Ex-Presidente Norte Americano Theodore Roosevelt visitou o Instituto Butantã. No mesmo ano Vital Brazil foi convidado a apresentar suas recentes descobertas em um congresso científico em Washington. Na volta, em Nova York, foi informado que o tratador de cobras do jardim Zoológico local havia sido picado por uma cobra. No hospital em que foi internado, começaram a aplicar o tratamento que se usava na época. O homem piorava a cada hora. A direção do hospital soube da apresentação de Vital Brazil no evento científico e solicitou que o seu soro fosse injetado no paciente, então moribundo. Algumas horas depois o quadro começava a regredir. O paciente sobreviveu. O jornal The New York Times descreveu o acidente e a cura com o soro produzido médico brasileiro. Assim, as descobertas de Vital Brazil começavam a ter reconhecimento internacional.
Em 1919 a projeção do Instituto Butantã e de seu diretor transcediam as fronteiras nacionais e estritamente científicas. No mesmo ano, Artur Neiva assumiu a direção do Serviço Sanitário de São Paulo, começando a interferir no Butantã. Vital Brazil não aceitou estas interferências. Por esta razão, pediu afastamento da instituição. Na oportunidade recusou convite para trabalhar no Instituto Oswaldo Cruz. Proferiu montar seu próprio laboratório em Niterói. Entre seus assistentes constava Otávio Veiga, irmão de Raul Veiga, então Presidente do Rio de Janeiro. Com isso, o governo deste estado doou uma área e uma receita para a construção do novo Instituto Vital Brazil, localizou-se em uma casa na rua Gavião Peixoto 360, esquina com Mariz de Barros.
Em 1919, Vital Brazil começou a reconstruir sua vida em outra cidade, organizando uma outra instituição e constituindo uma outra família. Com 55 anos de vida e nove filhos, casou-se, em 1920, com Dinah Carneiro Viana, 30 anos mais nova que ele com quem teve outros nove filhos. O Instituto Vital Brazil, por ele idealizado, tornou-se uma importante empresa privada de pesquisa e produção, fabricando produtos veterinários, biológicos (soros e vacinas) e farmacêuticos. O Instituto oferecia também bolsas de pesquisa para estudantes, editava duas revistas científicas e tinha uma biblioteca especializada. Em 1923, o Instituto Vital Brazil passou a funcionar em prédios adaptados no terreno doado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro. Em 1937, Vital Brazil encomendou a seu filho Álvaro o projeto de arquitetura da atual sede da instituição.
A construção da nova sede do Instituto revela a capacidade que Vital Brazil tinha para captar e administrar recursos públicos e privados. Ele já havia revelado esta competência quando ocupou a direção do Instituto Butantã. A construção da nova sede coincidiu com o momento em que o IVB encontrava-se em plena prosperidade econômica. No final da década de 1930, seus produtos atendiam não apenas o mercado estadual, mas também o nacional e o internacional. A construção da nova sede coincide, ainda, com o momento em que o Governo Vargas favorecia financeiramente empreendimentos industriais dirigidos por empresários nacionais. Vital Brazil conseguiu financiamento do Banco do Brasil para construir o prédio. A inauguração da nova de sede, no dia 11 de setembro de 1943 materializa esta coincidência de interesses.
Acompanhando uma tendência do início do século XX, O Instituto Vital Brazil manteve, desde sua fundação, forte base familiar. Esta empresa privada, dirigida por Vital Brazil, incorporou parentes de seus diretores e formou novas famílias em seu interior. Dois exemplos ilustram esta marca institucional. Com a morte de sua primeira esposa, uma irmã de Vital Brazil passou a tomar conta de sua casa. Seu marido tinha sobrinhas que haviam ficado órfãs no Paraná. Sensibilizado, convidou-as para trabalhar no Instituto. Uma delas era Dinah, que veio a ser a Segunda esposa de Vital Brazil. Augusto Esteves, desenhista do cientista desde os tempos do Butantã, veio com ele para Niterói, atuou como administrador do Instituto e casou-se com Alvarina, filha de Vital Brazil. Este ambiente familiar também pode ser identificado nas festas de confraternização entre funcionários e o diretor.
A ampliação das instalações do Instituto Vital Brazil (1943) coincidiu com o final da Segunda Guerra Mundial (1945). Naquele momento ocorreu sensível expansão da indústria farmacêutica multinacional sobre os países do terceiro mundo. Estas regiões do planeta representavam significativas fatias do mercado de consumo para estes produtos. O rápido desenvolvimento tecnológico e os preços aplicados pelas empresas multinacionais dificultavam a sobrevivência das indústrias farmacêuticas nacionais. Muitas vezes estas empresas estrangeiras, ao penetrar nestes países, incorporavam as concorrentes nacionais. O Instituto Vital Brazil não fugiu à esta tendência. As dívidas contraídas com a construção do prédio acrescidos da elevação dos custos de produção fizeram com que a Instituição vivesse momentos difíceis durante a década de 1940.

Vital Brazil faleceu no dia 8 de maio de 1950. A direção da empresa passou para a mãos da Sra. Dinah, sempre auxiliada pelo seu genro Dr. Álvaro Protásio. Os prejuízos decorrentes das dívidas com a construção da nova sede, somados aos constantes atrasos no pagamento das empresas estatais, principais clientes do Instituto, levaram o Instituto Vital Brazil a uma grave crise financeira. Para remediar o  problema, Dona Dinah foi se desfazendo dos imóveis que tinha e loteando parte do terreno do Instituto. Em 1957 a situação parecia insustentável. A saída encontrada foi vender a empresa para o Governo do Estado do Rio de Janeiro, garantindo para os herdeiros uma participação na direção da Instituição e a esperança de que ela se mantivesse fiel ao modelo idealizado por seu fundador: ser uma instituição de pesquisa e produção de soros, vacinas e remédios.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

VENDO ECOSPORT 2.0 CÔR PRETA

 VENDE-SE Veículo ECOSPORT 2.0 ANO 2007 FORD   -  CÔR PRETA KM: 160.000 R$35.000,00 Contato: 9.8848.1380

Popular Posts